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quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Mais que um retrato

               Vesto M. Slipher (1875-1969) aos 40 anos
               Astrônomo americano

Enquanto lia um livro sobre astronomia, Beth avistou o retrato de Vesto M. Slipher, no mesmo momento se viu presa aos olhos que a fixavam intimamente e a atraiam de uma maneira inexplicável. Viu o que poucos percebiam. Aqueles olhos revelavam uma personalidade forte, mas também suave. Forte em determinação, alguém que corre atrás dos seus ideais e os consegue. Suave em relação a conduta, a maneira de tratar àqueles que se relaciona. Olhar humanitário, olhar futurista, olhar penetrante. E via um homem de família - não teve dúvidas. Isso a perturbou. E quanto mais ela olhava aquela imagem, mais sentia seus olhos confirmando o que percorria em seu pensamento. Assim como ela fixamente o observava, o via igualmente a fitando, e sentia que ele penetrava em seu olhar em busca de conhecê-la. De repente, viu-se presa num imã que irrompia daqueles olhos, com interesse em saber o que existe dentro dela, puxando-a para si, como que dizendo que a queria ali, junto dele, ultrapassando além do seu olhar, do tempo e do espaço.
Beth continuou sua leitura, agora sem concentração, essa estava em uma foto de páginas atrás. De minutos a minutos voltava e parava seus olhos no retrato. Ficando em dúvida se era ela que o procurava ou ele que a chamava, pois sentia um magnetismo em seu ato.
Dias depois terminou o livro sem saber bem o que havia lido. Mas com a decisão de ampliar a foto em tamanho original, colocá-la numa linda moldura e pregá-la na parede de seu quarto.
Ficava a contemplar um rosto desconhecido que inexplicavelmente lhe parecia tão familiar, tão íntimo. Valendo-se disso, ele a  seduzia e conquistava mais e mais.
Então, os lábios emoldurados fizeram suaves movimentos sensuais que Beth leu como: - Venha cá! Mal terminou sua leitura labial já sentia o calor de um beijo firme, intenso e apaixonado. Sem questionar correspondia, já a procura das mãos que não podia ver abaixo da moldura - sua criatividade lhe dava a certeza que eram belas e sabiam tocar com o calor desejado e a força que não machuca, só atrai -, então curvou-se levando suas mãos por dentro do quadro a procura das dele, e trouxe para si dois braços, que os entrelaçou em suas costas.
Constantemente brincava voltando no tempo ou trazendo para o hoje quem existiu no passado.
Ninguém entendia porque Beth vivia a maior parte do tempo trancada em seu quarto, onde passou a fazer até as refeições. Também questionavam como ela não engordava se levava comida suficiente para duas pessoas e, como andava feliz apesar de se isolar. Ela mantinha um segredo, pois não tinha coragem de se expor, por não saber se vivia um delírio ou uma realidade absurda.
BeatrizNapoleão (abril/2012)

2 comentários:

  1. Gostei muito do seu conto,amiga Beatriz Napoleão;um conto surreal com estilo próprio,e muito bem escrito,parabéns!

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  2. Obrigada, amiga Zinah! É um prazer para mim saber que você gostou.

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