Pai é aquele
homem que está desde sempre nas nossas melhores lembranças.
Aquele que
quando a filha era pequenina e acordava insegura devido algum sonho
perturbador, no escuro das altas horas, chamava, "Papai! Papai!", e
logo ouvia uma voz tranquilizadora que vinha do quarto vizinho - como se ficasse
de vigília aguardando aquele momento -, "venha pra cá!". Descendo
imediatamente da cama, ela chegava em dois tempos no quarto contíguo, onde
tateando, encontrava uma rede armada e vazia a sua espera - ele gostava de
dormir de rede, mas quando sua princesinha precisava de socorro ele levantava e deitava na cama ao
lado de sua amada, que dormia despreocupada, pois à noite, tinha quem zelasse
por todos de casa, só voltaria a assumir o controle do lar quando o chefe da
família saísse ao trabalho -, mal a pequena deitava, a rede começava a balançar para lá e
para cá. Mas o susto de um sonho desagradável não permitia que o sono voltasse
assim tão fácil e, quando o pai parava o balanço, julgando ter conseguido
imobilizá-la no sono, e poder voltar a dormir, a pequena se mexia para que ele
ouvisse o som de seu corpo roçando na rede, como dizendo "ainda não dormi.
Por favor, me embale!". E ficavam a repetir essa cena até o sono
dominá-la.
Pela manhã, quer
dormisse na sua cama ou na rede do pai, ela acordava com massagem nas pernas e
nos pés, e à sua frente um belo sorriso no rosto do homem que era puro amor.
Como não acordar de bom humor! E era sempre ele quem a levava para escovar os
dentes, e a entregava a escova já com creme dental. Enquanto ela escovava ele a preparava seu café da manhã.
Na
adolescência, havia dias em que ela sentia desejo de comer algo diferente, mas
não sabia ao certo o que era, então o pai saia, e quando voltava trazia algo que
saciava o seu desejo. Era como se ele adivinhasse os seus mais profundos pensamentos, que ela própria ignorava conhecer.
São
tantas histórias de amor, carinho e, exemplos de caráter, bons costumes...
É
isto! Meu pai foi esse ser protetor, do bem, do amor. Mas que tinha pulso firme e fazia-se respeitar. Quem sabe ele tenha me mimado tanto por eu ter sido a caçula de 12 filhos (apesar de um ter falecido bebê), ou, por eu ter nascido quando ele estava completando 50 anos, o que talvez tenha lhe feito refletir que não vale a pena vivermos com tanto rigor, tanta imposição, que o bom exemplo associado ao amor, a atenção e ao limite dão mais resultados do que as surras.
Dois
meses antes de eu fazer 18 anos a vida deixou meu pai. Mas ele já havia
plantado em mim seus melhores sentimentos e exemplos que eu trago até hoje.